COMO LIDAR COM O SENTIMENTO DE CULPA MATERNA?

    
Um dos momentos em que eu precisava trabalhar mas minha filha exigia sua parcela de atenção.


    O tema do post de hoje foi sugerido por uma leitora e amiga muito querida. Ela fez isso a alguns dias atrás e ao mesmo tempo em que eu agradeci e fiquei feliz por alguém estar me pedindo para escrever sobre algo eu pensei: "Ual, que difícil falar sobre isso, eu precisaria me expor". E uma coisa é expor em público os momentos felizes e engraçados, e outra é expor os momentos delicados pelos quais todos passamos na vida". 

    Mas tá bom,  desde o momento em que eu decidi criar um blog para falar de maternidade eu estava consciente dessa necessidade. Minha intenção sempre foi falar da maternidade real, e não de uma "per fake ção" utópica que algumas pessoas pintam em alguns canais de comunicação. 

    Hoje eu quero conversar com você sobre CULPA na maternidade. Sim, isso mesmo, e embora eu não saiba da sua vida, eu estou bem certa de que isso não acontece só aqui na minha casa ou na casa dessa minha amiga que sugeriu o tema. 

 A gente poderia começar falando  da cobrança existente na sociedade sobre as responsabilidades de uma mãe. Sociedade essa, que inclui também eu e você. Sendo assim a cobrança por um modelo exemplar de maternidade existe tanto de outras pessoas, mas principalmente em nós mesmas e eu acredito que é aí que começamos a sentir culpa. 

    Existe um modelo ideal de maternidade pintado na cabeça de cada uma de nós, e vivemos uma busca constante por ser esse modelo. O que acontece é que na maioria dos casos trata-se de um modelo inatingível de perfeição, o que faz com vivamos frustradas, e é aí que a culpa aparece, pois somos humanas, seres não perfeitos, com fraquezas e que erram como qualquer outro ser humano. 

    Além disso, com o mundo de informações a que temos acesso hoje, onde podemos ver outras mães como você pode me ver aqui, faz com que façamos comparações e isso pode criar uma ideia falsa de que nós não somos uma mãe normal, ou a ilusão de que outra mãe consegue e você não.

    Eu chamo de ideia falsa, pois existem muitas formas de ser mãe, cada uma a seu estilo e dentro das suas capacidades, condições e recursos, mas eu não acredito nesse modelo de perfeição almejado e muitas vezes até demonstrado em 30 minutos de vídeo na internet. O que são esses minutinhos perto de uma vida toda? 

    Compartilho aqui que quando cursei uma faculdade com 3 filhos (3, 7 e 9 anos), algumas amigas que tinham 1 filho diziam: - Adri, como você consegue dar conta? Eu tenho 1 só e já não consigo, imagina você! . 

    Consegue perceber como elas estavam se comparando a mim? E talvez ao me ver ali, estudando com 3 filhos em casa elas pudessem se sentir muito mal a cada dificuldade que encontravam tendo 1 filho. E olha que eu sempre respondi: -Eu não dou conta, e se estou aqui é porque Deus me ajuda😊.

    Mal sabem elas que os 4 anos de faculdade mais os 2 anos de pós graduação talvez tenham sido os períodos em que eu mais senti (e as vezes ainda sinto) culpa materna na vida!

    O período em que eu voltei a estudar existia um turbilhão de sentimentos na minha vida, ao mesmo tempo que eu tentava pensar " é por eles" , " é para dar um futuro melhor para eles, conseguindo mais recursos financeiros" , ou ainda " Estou tentando ser um bom exemplo para meus filhos"...

    Por outro lado eu me sentia mal, e até já ouvi que meus filhos estavam "jogados", sem atenção necessária, sem cuidados. Ou ainda era questionada sobre porque eu não estudei antes de ter filhos, porque agora era tarde para isso. Enfim eu dava pouca atenção para os filhos, o serviço da casa se acumulava e eu nunca conseguia deixar tudo em ordem, eu trabalhava e administrava as 2 lanchonetes que tinha e vivia exausta, a ponto de quase surtar, de desistir e minhas amigas na faculdade achando que eu tava dando conta😏. 
    
    O que eu quero dizer contando isso é que eu sentia culpa. Muitas vezes me senti egoísta por achar que tava pensando demais no que eu queria e pouco no que eles precisavam e isso doía. Eu pensei em desistir muitas vezes, vivia na corda bamba, me sentia mal por pensar que meus filhos estava sendo privados dos meus cuidados e atenção que eles mereciam ter porque eu tava correndo atrás de outro objetivo. 

    Certa vez eu desabafei no corredor com duas amigas, a Jéssica e a Carol. Estávamos no 5 período da faculdade. Contei um pouco do que me atormentava, de como eu me sentia um lixo e um caco porque enquanto eu estava na faculdade e no trabalho meus filhos estavam se virando sem mim. Eu estava a beira da desistência, do jeito que estava eu não aguentaria mais 3 semestres para concluir o curso. 

    Para minha sorte, antes de passar na secretaria para trancar a matrícula eu pedi para conversar com uma professora que considero uma grande amiga e muito do que eu sou hoje foi por sua influência e apoio. Eu a admirava (e admiro) e fui falar com ela porque eu tinha vergonha de decepcioná-la, de que ela me visse desistir no meio do caminho porque eu queria mesmo que ela sentisse orgulho de mim. 

    Ela tinha sido minha professora no 1° período, mas mesmo tendo passado tanto tempo eu ainda sonhava com o dia em que ela veria eu me formar. Ela reservou um horário para mim, e enquanto eu tentava justificar os motivos pelo qual eu queria desistir dizendo que eu não aguentava mais, ela me ouviu. 

    Quando chegou a hora de ela falar, ela compartilhou comigo o momento delicado e difícil também que viveu quando estava escrevendo sua tese de mestrado com uma filha pequena. Ela tentou me animar dizendo que não existem grandes conquistas sem muito esforço e sacrifício e que era isso que eu estava fazendo, um sacrifício para uma conquista.

    Ela era mãe, mulher e me levantou num momento em que eu precisei. Eu poderia dizer que ela me incentivou a continuar, mas digo mais,  digo que a professora Adriane Setti não me deixou desistir, pois eu saí fortalecida daquela conversa e disposta a continuar fazendo um sacrifício para uma conquista.  
    
    São por essa e por outras coisas que eu vivi na vida que acredito na ideia de que estamos aqui para nos apoiarmos umas as outras, e no momento em que uma está mais fraca, como eu estava aquele período,  outra estende a mão e oferece apoio como aquela professora fez por mim. 

    O irônico ou no mínimo curioso disso tudo, é que eu me senti assim e tive essa conversa com a professora numa sexta feira a noite dia 12/08/2016 (sim eu nunca vou esquecer dessa data de tanto que marcou). Fui para casa renovada, cheia de esperança e pensando que meus filhos já estavam maiorezinhos agora (6, 10 e 12 anos), que faltava pouco (apenas 1 ano e meio) e enfim, que se eu e eles tínhamos suportado aquele tempo todo, suportaríamos mais um tempo em prol dessa conquista. 

    Mas... como a vida é mesmo uma caixinha de surpresas, dois dias após essa conversa, no domingo dia 14/08 dia dos pais eu me sinto mal, muito mal mesmo. Desconfio, mas assumo que fiz um teste de farmácia só para desencanar e adivinhem? Descubro que estou grávida do 4° filho.😱 Mas espera, essa história aqui não era para contar que eu não dava conta nem de 3? 

    Em minha defesa😏, eu não pretendia engravidar e também não esperaria aquela gravidez, pelos motivos que você pode acompanhar nessa outra história aqui. Mas resumindo, eu não conseguia engravidar naturalmente, pelo menos em muitas anos eu nunca tinha conseguido até que... Mas essa é uma história que eu vou contar em outro post. 😉

    Eu não compartilho esses acontecimentos com a intenção de passar que só essa vez na vida eu fui assolada pela culpa materna não. Mas eu queria sim relatar com uma experiência real sobre um longo período (foram anos) em que eu dormia e acordava sentindo culpa por não ser uma boa mãe para meus filhos. 

    E mais que isso, eu queria contar que hoje, passado aquele período, embora lembrar de quantas vezes eu negligenciei a atenção que meus filhos mereciam e precisavam ainda doa em mim, eu não consigo sentir arrependimento por isso. 

    Talvez eu me arrependeria se eu tivesse deixado de estar com eles por tanto tempo para alguma outra coisa, mas por ter lutado para conquistar uma profissão não. O tempo passou, eles cresceram um bocado e graças a Deus nós não pudemos notar grandes sequelas daquele tempo. 

    Hoje, passamos muito tempo juntos, e em muitas oportunidades eu converso e explico para eles sobre aqueles momentos, e eles demonstram sempre com carinho compreender. E mais que isso, eles demonstram ter orgulho de mim e que sim eu sou um bom exemplo no quesito estudos, pois não deixei (só quase deixei) que as dificuldades me fizessem desistir.

Esse diploma é deles também, pois doaram muito para essa conquista.


    Esse pode não ser o seu caso, talvez não sinta culpa pelos mesmos motivos que eu. No entanto se eu fosse listar todos os motivos pelos quais eu sinto culpa, esse post teria 1 milhão de linhas, mas só para que  você saiba que não está só eu vou citar somente alguns aqui.

    Eu sinto culpa quando a Gigi quer brincar comigo e eu não brinco por estou ocupada com coisas de adulto ou simplesmente porque estou cansada. Quando peço para o Gustavo parar de falar porque ele fala bastante e chega num momento do dia que eu não aguento mais ouvir. Sinto culpa por ver o Calebe reclamar que eu dou mais atenção para a Gigi do que para ele. Sinto culpa por ver a Bia que não teve seus filhos ainda, tantas vezes cuidando da Giovanna para me ajudar e eu não querendo que ela seja sobrecarregada com algo que não precisaria antes do tempo.

    A lista é imensa, e todos os dias eu levanto dizendo para mim mesma que hoje eu não vou perder a paciência, não vou soltar nenhum gritinho, que eu vou ser mais amorosa, mais atenciosa e que eu vou surpreendê-los por finalmente ter acordado uma mãe melhor. 

    A questão é que geralmente eu não consigo, então eu me frustro, e então a culpa vem... e como administrar isso? Eu diria que a partir do momento que você reconhece que não é "super" , que é humana, que falha e que tem defeitos como qualquer pessoa a coisa começa a tomar um rumo diferente. 

    Eu já me culpei demais, já me frustrei demais e já cheguei a pensar "porque Deus me deu tantos filhos se eu sou um fracasso como mãe"? E após analisar eu mesma essa pergunta a resposta veio dentro de mim dizendo que Deus é perfeito, e se Ele nos deu nossos filhos é porque Ele sabia o que estava fazendo.

    Hoje, eu lido um pouco diferente com esse sentimento. O que não quer dizer que eu não o sinta, mas hoje eu aprendi a administrar de uma forma mais leve em que a culpa, embora sentida, não me consome mais. 

    A partir do momento que você sabe que ama seu filho e de que quer o melhor para ele já é uma grande coisa. Isso não irá te impedir de errar, não te tornará perfeita, mas isso fará com que você siga buscando acertar sempre,  isso trará progressos, e eu creio sim que nos fará mães melhores a cada dia.

    Ninguém nasce sabendo ser mãe, ainda que você leia tudo sobre maternidade, faça cursos de mães existentes por aí, acompanhe os canais sobre maternidade no youtube ou seja leitora assídua de blogs como esse, apenas o dia a dia imergido nessa realidade é que te mostrará você pode melhorar como mãe. São nossos filhos que nos ensinam isso, é por eles que buscamos melhorar.

    E a culpa? Eu acredito que ela sempre irá existir. Nós sempre queremos ser melhores do que somos e muitas vezes não conseguimos. 

    A questão é: -Até onde você vai deixar isso te maltratar? Assumir que não somos e nunca seremos perfeitas, mas que amamos nossos filhos a ponto de buscar sempre melhorar para eles pode ser um grande começo para lidar com esse sentimento.




    
    


    
    

    

    

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